A aplicabilidade da dieta cetogênica vem sendo estudada nos últimos anos para auxiliar no tratamento para o câncer. Ela consiste em uma alimentação rica em gordura (aproximadamente 65-70% do valor energético total – VET) e com quantidade de carboidrato extremamente baixa (5-10% do VET). Para o paciente oncológico, é recomendado uma alimentação com quantidades adequadas de proteína (pelo menos 25% da composição diária da dieta).
O objetivo dessa intervenção seria imitar o estado de jejum para o corpo, em que a fonte principal de energia seria a gordura ao invés do carboidrato – com isso, produzindo “corpos cetônicos”. O ponto principal dessa intervenção é produzir essas moléculas pelo fígado. São necessários de 2 a 3 dias para o corpo começar essa produção e qualquer quebra do plano alimentar pode levar à perda desse estado cetogênico, sendo necessário iniciar o processo novamente.
A hipótese para o uso da dieta cetogênica seria diminuir o estímulo da glicose e da insulina no crescimento celular do tumor, deixando-o mais vulnerável ao tratamento. É importante reforçar que nenhuma intervenção alimentar “mata” o tumor, mas é possível observar certos tipos de tumores diminuindo sua taxa de crescimento por meio dessa conduta. Além disso, esse estado que “imita o jejum” faz com que as nossas células saudáveis aumentem a sua defesa e com que as células tumorais fiquem vulneráveis e o tratamento possa ser mais eficaz.
Entretanto, essa intervenção possuí efeitos colaterais, especialmente nos primeiros dias como dor de cabeça, irritação e cansaço. Também pode gerar constipação e diminuição da qualidade de vida por ser tão restrita e pela necessidade de ser seguida à risca, independente dos sintomas relatados pelo paciente. A longo prazo, se não planejada de forma correta, pode aumentar o consumo de gorduras saturadas e diminuir o consumo de vitaminas e minerais. Também é necessário relatar que uma dieta cetogênica que respeita a necessidade nutricional do indivíduo e mantém o consumo de proteína adequado não leva à perda de peso.
Dessa forma, mesmo com estudos relacionando o benefício dessa intervenção, ela ainda é considerada experimental e há questionamentos sobre sua segurança. Não há recomendação para o seu uso e se desconhece o tempo que é necessário fazer essa intervenção, além de poder agregar efeitos colaterais para o paciente.
Para o paciente, não é recomendado iniciar essa intervenção sem recomendação individualizada da sua equipe de saúde, pois apesar dos benefícios, em certos tipos de câncer ela aumentou a taxa de progressão da doença. O nutricionista deve estar seguro de prescrever uma intervenção que irá auxiliar o paciente e não prejudicará seu tratamento e estado nutricional. Por isso, é uma intervenção individualizada, caso a caso.
Referências
Li et al. Journal of Food Biochemistry 2020
Hopkins et al. Nature Reviews Endocrinology, 2020
Lien et al. Nature Reviews Cancer 2019
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