O ácido úrico é um produto final do metabolismo de aminoácidos (partes menores de uma proteína). A falha na sua excreção e/ou um excesso de sua produção leva a uma concentração sérica elevada desse composto, que está associada a doenças como gota e age como um marcador de doenças cardiovasculares.
Entretanto, é observado na sociedade um aumento sistêmico de ácido úrico sérico e isso tem sido associado principalmente a componentes de uma dieta ocidental – sendo o principal deles a frutose proveniente de alimentos industrializados. A fim de adoçar os alimentos (líquidos e sólidos), sem correr o risco de haver um processo de cristalização do açúcar nos alimentos, a indústria utiliza a frutose (que não equivale a frutose que encontramos em uma porção de fruta).
O metabolismo da frutose, especialmente o hepático, aumenta a produção de ácido úrico. O excesso dessa molécula dentro da célula faz com que o fígado excrete mais esse composto, sendo possível observar então um aumento sérico. O excesso de ácido úrico na circulação também possui outras consequências que sustentam essa alta, entre eles uma maior conversão de ácido úrico por aminoácidos e uma eventual falha na excreção desse composto pelos rins. O excesso de ácido úrico também está associado à manutenção de lipogênese (ou seja, formação de tecido adiposo), que contribui em um processo inflamatório e acarreta dificuldades para perda de peso.
Uma grande preocupação em relação aos níveis elevados de ácido úrico é que eles já são observados na população pediátrica. A exposição crônica dessa molécula elevada no organismo gera vários distúrbios que atrapalham a saúde metabólica da criança, como esteatose hepática (gordura no fígado), obesidade, diabetes, hipertensão e doenças renais.
Dessa forma, conseguimos observar que o ácido úrico elevado causado por alterações na nossa alimentação deve ser um grande fator a ser considerado como risco de desenvolvimento de câncer, já que acarreta graves consequência para a nossa saúde metabólica. Alguns estudos já vêm apresentando uma associação positiva entre níveis elevados de ácido úrico com um maior risco de desenvolvimento de câncer e um maior risco de mortalidade.
É importante estarmos atentos a esse marcador bioquímico nos pacientes. No caso de uma elevada concentração de ácido úrico, é recomendada uma alimentação com baixo teor de alimentos industrializados e com uma alimentação que ofereça um bom aporte anti-inflamatório.
Referências:
Xie et al. J Cell Physiol 2019
Dovell e Bofetta European Journal of Cancer Prevention 2017
Russo et al. Int. J. Mol. Sci. 2020
Caliceti et al. Nutrients 2017